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Pesquisadores da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, descobriram que algumas pessoas estão desenvolvendo uma resposta autoimune à Covid-19. Uma espécie de “erro na imunidade” faz com que elas produzam anticorpos que combatem o sistema de defesa do corpo, levando o coronavírus a se manifestar de maneira mais agressiva.
Os resultados, publicados pela revista Science na última semana, levantaram a hipótese de que esses pacientes podem ser gravemente afetados com o tratamento à base de plasma de convalescente, que se baseia na transfusão de anticorpos de pessoas recuperadas.
A pesquisa observou que 101 de 987 pacientes que desenvolveram o quadro mais grave da doença tinham auto-Abs IgG, um anticorpo neutralizante contra uma proteína chamada interferon. Os mesmos anticorpos não foram encontrados nos 663 pacientes com quadros mais leves ou assintomáticos analisados e estavam presentes em apenas 4 de 1.227 indivíduos saudáveis.
A interferon do tipo 1 é produzida pelos leucócitos e é essencial para evitar que o coronavírus e outros vírus e bactérias se repliquem no organismo. A proteína age no começo da resposta ao invasor, quando ainda não existem anticorpos ou células dirigidas contra a ação do vírus. A ausência ou pouca quantidade da proteína deixa o corpo vulnerável à infecção.
A infectologista do Laboratório Exame, Maria Isabel de Moares Pinto, explica que “ela age interferindo na replicação do vírus. Se eu tenho um anticorpo inibindo a interferon, ela não vai inibir a replicação do vírus, então ele se replica mais intensamente”. A médica conta que esse mesmo processo acontece em doenças autoimunes como o lúpus e a artrite reumatoide.
O artigo mostra que algumas pessoas podem ter uma reação autoimune que está silenciosa. “Ninguém sabe que tem esses anticorpos dirigidos contra componentes importantes para provocar uma boa resposta contra o vírus e, quando ela entra em contato com o Sars-CoV-2, começa a ter uma reação incomum, chegando a um quadro de pneumonia grave”, pontua Maria Isabel.
A médica avalia que o estudo traz uma nova perspectiva para as pesquisas de tratamento da Covid-19, como o uso do plasma – a parte líquida do sangue – de pessoas que se recuperaram da infecção em pacientes hospitalizados. “Pessoas que têm anticorpos anti-inferferon do tipo 1 não devem ‘tomar’ esse plasma porque ele tem justamente um anticorpo que não é bom”.
Em outro estudo publicado na revista em julho, cientistas franceses relacionaram a deficiência de interferons aos quadros graves da doença e sugeriram a relação entre algumas comorbidades e a baixa produção da proteína.
Fonte:Metrópoles
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